domingo, 23 de agosto de 2009

As meninas Rosa e Azul




Olá!

Este sábado estive no Museu de Artes do RS para ver a exposição do Ano da França no Brasil. Uma oportunidade única para ver um Renoir autêntico na minha frente. E lá estavam elas, as meninas Rosa e Azul, pintadas pelo pintor francês em 1881.
Fiquei prostrado por alguns minutos à frente do quadro. Mais não pude ficar, como gostaria. Num evento desses, em cidades provincianas como Porto Alegre, sempre dá muita gente e o que deveria ser um acontecimento de contemplação e total entrega à arte, acabou se tornando uma rápida vislumbrada. Mesmo assim valeu a pena.
O quadro é de total beleza. A perfeição dos traços é genial. A luz do quadro é algo soberbo. Até as dobras das meinhas das meninas se destacam.
Mas nos dando uma verdadeira lição sobre as possibilidades de apreensão da realidade, quando nos aproximamos do quadro, percebemos que os traços perfeitos do artista não sada mais que pinceladas grotescas e borradas. A realidade ficou turva e distorcida e as meninas nos ensinam outra coisa: nossa realidade é só uma questão de ponto de vista. Tudo são impressões!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

E a noite cai...

PASSAGEM DAS HORAS

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

(...)

Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estai vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?

Como um bálsamo que não consola senão pela idéia de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) - 22 - 5 - 1916

sexta-feira, 3 de julho de 2009

E aí eu comecei a cometer loucuras...

Dando um tempinho nos trabalhos da faculdade, lembrei de amores passados:

...Oh Deus, será que o senhor não está vendo isto?
então porque é que o senhor mandou Cristo,
aqui na terra semear amor.
Se quando se tem alguém que ama de verdade, serve de riso pra humanidade
é um covarde, um fraco, um sonhador.
se é que hoje tudo está tão diferente, porque é que não deixa eu mostrar a essa gente que AINDA EXISTE O VERDADEIRO AMOR... (Lupicínio Rodrigues)


Os sambas do Lupi são sempre cheios de dor de cotovelo, fossa e amores perdidos.
Mas que letras! Como calam fundo n'alma!
Quem já viveu um grande amor, sabe do que estou falando!

http://www.youtube.com/watch?v=zKGtfWYn0z0

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Nostágico e melancólico

Estive off! Off por uma série de razões. Uma falta não sei do quê. Velhos amigos, coisas vividas e também das não vividas. O passado batendo à minha porta e querendo entrar. Entrar e invadir meu espaço presente. Talvez tenha conseguido e me deixado bem nostágico. Diria mais, melancólico. Melancólico como uma peça musical para violoncelo. Aí viajei, mas viajei mesmo, de pegar estrada. Fui a um sítio de alguns amigos. Peguei sol, tomei banho de piscina e dei aquela renovada. Pensei em como a gente fica bobo às vezes e esquece o quanto a vida pode ser colorida, ensolarada e refrescante. Não importa quanto o passado entre porta a dentro no nosso presente, sempre terá um futuro pela frente. E, infelizmente, o futuro chegado foi um tanto cruel e levou uma das minhas mais queridas e especiais amiga. Uma amiga positiva, cheia de vida e boas energias e doce, muito doce! Chorei bastante, da melancolia e da alegria passageira fui à tristeza. E um tantinho de raiva também, Pô! Logo ela!!! Tanta gente pra ir antes!!! E aí lembrei daquelas frases qua a gente sempre escuta na infância e não sabe exatamente quem falou, mas que ficam gravadas em nossa memória: os bons, Deus chama mais cedo! Talvez tenha sido esse o caso dela. Era especial demais pra permanecer aqui. Às vezes sou como Brás Cubas, que não teve filhos para não transmitir o legado de nossa miséria! Coisas de intelectual solteiro que passa a odiar o mundo à sua volta, achando que Dante errou o mapa e a localização do Inferno, não sendo preciso descer aqueles cículos todos...
O que me sobra? Não posso reclamar, ainda tenho dúzias de amigos muito queridos e especiais, cada qual do seu jeito, cada um da sua maneira. E cada um deles conectado a uma de minhas tantas faces...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Lu X Eva

Oi gente!
Apesar do título do meu blog se assemelhar com o livro e o filme de título "As três Faces de Eva", de Corbett Thigpen & Harvey Cleckley, nada tem a ver. Nestas obras homônimas, a literária e a cinematográfica, há um desvio de personalidade por parte da personagem-título. Eu nunca li o livro, apenas vi o filme uma vez, muitos anos atrás. Mas conheço a estória desde meus 18 anos, quando meu sempre saudoso amigo e professor de teatro e da vida, Roger Bolívar, citava-o em nossos ensaios. Gravei forte na memória. Talvez por tentar me igualar a meu mestre em cultura ou já percebendo em mim um certo ar bipolar. Brincando com este título, no caso deste meu blog, haverá apenas expressões diversas de sentimentos e impressões acerca do mundo que vivo, sinto e vejo. Meu dia a dia, que apesar de comum em seus acontecimentos, muito tem de diferente naquilo que dele interpreto. Óbvio! Todo ser humano tem suas próprias impressões acerca do mundo em que vivemos. Mas sempre tive a sensação de o perceber com cores, tonalidades, sons, sabores e odores sempre mais intensos que a média populacional. Sei lá! Tipo Fernando Pessoa e a "Passagem das Horas", sabe?! Esquisitice? Arrogância? Petulância? Não sei! Apenas, pra mim, o vermelho é mais vermelho e, talvez por isso, o vinho tinto me embriague mais que o branco num acúmulo de sentidos!